O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas -
Essas e o que falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitivamente o infinito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade, infecundo cansaço
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço...
Álvaro de Campos, "Poemas"
PLUTÃO NATAL NA CASA 4
Há 2 semanas
2 comentários:
Hi there!!! Better?
Não conhecia este poema do Álvaro de Campos, lindo! Mas quem fez anos ontem foi o Alberto Caeiro ;)
Beijocas
Hello my Love!
Li este poema há algum livro atrás num livro sobre Fernando Pessoa. Fiquei apaixonada!
Eu sempre preferi Álvaro de Campos a Alberto Caeiro, é mais a minha onda (lol) :P
Sweet Kisses
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